...e tenho tanta pena!
Gosto da emoção dos preparativos, de rever o material, da viagem. De ver a neve aparecer lá ao longe, à medida que nos aproximamos do destino. Do cheiro frio, do ar gelado que nos enche por dentro. Da chegada, da compra dos forfaits, do aluguer dos skis e do experimentar das botas. Do levantar cedo, do correr para as cadeirinhas, da 1ª descida. E de todas as outras, das pistas que se vão descobrindo, das vistas fantásticas que nos passam pelos olhos. Por sentir a cabeça "limpa", o "disco formatado", como costumo dizer, ao fim de 5 minutos de skis nos pés. Da neve fofa, dos saltinhos. Das aulas, do que vou evoluindo, das descidas rápidas, das gargalhadas. De skiar de t-shirt, nos dias quentes. Das pistas junto a lagos ou ladeadas por árvores. De descansar ao sol, sentindo a neve trespassar o fato. Do almoço comido à pressa para não perder tempo, numa qualquer esplanada (há sempre tantas pistas por descer...!). De rematar o almoço com um chocolate quente (sempre pequeno e caríssimo, já sei!). Das quedas em neve fofa (quando acontecem; felizmente são cada vez mais raras). Das gargalhadas, das fotos, dos filmes que ficaram para a posteridade. Dos minutos passados no alto, apenas a olhar para as montanhas à volta, para o mundo lá em baixo, ao longe, pequenino... Do que isso me acalma. De me sentir livre e tão feliz ali! De correr para a cadeirinha que nos levará às pistas mais altas, para depois as descermos calmamente, até ao fim, e sermos os últimos - ou quase - a regressar. Da inevitável batalha de neve, pelo menos no último dia, após a última descida. De me sentir qual astronauta quando tiro as botas pesadas. De comer uma sopa quente no apartamento, ou de me deliciar com um belo crepe doce, numa café ou numa crêperie onde ficamos horas e horas na conversa, a contar as histórias do dia e planear o dia seguinte. Do jantar (ou não...), da desarrumação da casa, das trocas e baldrocas e confusões. Das discussões sobre quem lava a roupa e limpa a casa em cada dia. Das risadas, das cartadas e jogatanas que nunca faltam noite dentro. De me sentir completamente de rastos, cedíssimo para os padrões normais, e de me deitar a sonhar com as pistas, e os skis, e a neve. Das nódoas negras, dos músculos doridos, e do prazer que isso me dá! De pensar nas pistas que ainda vou descer. Da luta interior do último dia, entre o cansaço acumulado, a razão, que me dizem para descansar (com os joelhos já a dar sinal, é o costume), e o coração, a adrenalina, que me empurram para as pistas. Luta desigual, injusta: ganha sempre a emoção de voltar às pistas, de aproveitar até à última cadeirinha, ao último minuto, ao último segundo. E a tristeza de deixar tudo aquilo, aquela calma, aquela paz de espírito. E o arrumar as malas, as saudades que já apertam, os planos que se fazem para o ano seguinte. Do último olhar para as pistas, da última neve que se vê.
De ser tão feliz ali, no meio daquela imensidão, de me sentir tão pequenina ali no cimo da montanha, rodeada de branco e de árvores.
Este ano não vou à neve. (Mas pedi para descerem uma por mim.)
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