Num outro blog que partilho com amigos ("Konsultorio do pecado") escrevi há momentos isto, no seguimento de uns comentários sobre a 'tuguice':
"Sabem que são precisamente todas as idiossincrasias dos 'tugas que me fazem gostar tanto de também o ser? Ok, muitas vezes desespero com o 'chico-espertismo' luso, com a ideia que nos corre no sangue que as todas as leis são para serem contornadas (sim, todas têm uma falta qualquer! Acho mesmo que os legisladores já o fazem de propósito para facilitar a vida aos seus compatriotas), com a preguicite crónica, com o nosso sangue quente, com o queixarmo-nos sempre de tudo, com a cusquice,...
Alturas houve em que achei que, como país, ainda poderíamos dar a volta por cima, mas hoje em dia acho impossível. Não que não tenhamos capacidade e recursos para tal, mas isso daria muito trabalho... Teríamos de ser mais sérios e honestos, de pagar os impostos, de sermos mais disciplinados, mas tudo isto vai contra o nosso 'âmago', seriam atitudes contranatura para os 'tugas.
Apesar de tudo isto, gosto destas nossas pequenas coisas de esquecermos todas as tristezas e dificuldades e irmos para a rua fazer bonecos de neve no capot dos carros com os primeiros flocos de neve que vimos em Lisboa. Ou da emoção que nos une à Selecção (embora sabendo que todos estão sujeitos a passar de bestiais a bestas e a bestiais novamente num piscar de olhos). Ou de nos queixarmos da falta de dinheiro mas enchermos tudo o que é festival de Verão e estádios de futebol nos jogos 'grandes' (ah, já para não falar da romaria ao Santo- Algarve-de-todos-os-sóis sempre que nos pudermos 'baldar' ao trabalho).
À nossa maneira, acho que somos a versão lusa de D. Quixote: vivemos de ilusões, somos capazes de mudar o mundo, dizemos das boas aos chefes ou ao vizinho que faz barulho até tarde, mas no dia seguinte lá andamos nós mansinhos, e ainda somos oferecemos "A Bola" ao chefe para ele ler as últimas do Glorioso. Ou convidamos o vizinho para ver a bola lá em casa.
E conhecem algum outro país onde se coma tão bem e tão variado como neste nosso outrora jardim à beira-mar plantado? Sempre bem regado, claro...
Temos muitos defeitos, mas gosto de nós assim! Embora reconheça que nalgumas coisas poderíamos fazer francos progressos..."
E o sentirmos o coração pequenino de saudades?
Já o Grande Fernando Pessoa dizia que "o português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja, porque somos um grande povo de heróis adiados". Aliás, num jornal que já não existe (terá sido n'"A Tarde"?) foi feito há muitos anos uma trabalho que achei memorável: o(s) jornalista(s) (?) 'faziam' várias perguntas a que Fernando Pessoa respondia com extratos de obras suas. Lembro-me de ter achado tão interessantes essas 2 páginas de entrevista póstuma a Pessoa que as quis guardar religiosamente. E guardei-as tão bem... que nunca mais as encontrei! Esta frase vinha lá, e era o início de uma das respostas que é, recordo-me, a melhor descrição que já li sobre o que é Ser Português.
E olhem que não é qualquer um que pode ser 'tuga! É uma arte só nossa, 'impartilhável'...
"Sabem que são precisamente todas as idiossincrasias dos 'tugas que me fazem gostar tanto de também o ser? Ok, muitas vezes desespero com o 'chico-espertismo' luso, com a ideia que nos corre no sangue que as todas as leis são para serem contornadas (sim, todas têm uma falta qualquer! Acho mesmo que os legisladores já o fazem de propósito para facilitar a vida aos seus compatriotas), com a preguicite crónica, com o nosso sangue quente, com o queixarmo-nos sempre de tudo, com a cusquice,...
Alturas houve em que achei que, como país, ainda poderíamos dar a volta por cima, mas hoje em dia acho impossível. Não que não tenhamos capacidade e recursos para tal, mas isso daria muito trabalho... Teríamos de ser mais sérios e honestos, de pagar os impostos, de sermos mais disciplinados, mas tudo isto vai contra o nosso 'âmago', seriam atitudes contranatura para os 'tugas.
Apesar de tudo isto, gosto destas nossas pequenas coisas de esquecermos todas as tristezas e dificuldades e irmos para a rua fazer bonecos de neve no capot dos carros com os primeiros flocos de neve que vimos em Lisboa. Ou da emoção que nos une à Selecção (embora sabendo que todos estão sujeitos a passar de bestiais a bestas e a bestiais novamente num piscar de olhos). Ou de nos queixarmos da falta de dinheiro mas enchermos tudo o que é festival de Verão e estádios de futebol nos jogos 'grandes' (ah, já para não falar da romaria ao Santo- Algarve-de-todos-os-sóis sempre que nos pudermos 'baldar' ao trabalho).
À nossa maneira, acho que somos a versão lusa de D. Quixote: vivemos de ilusões, somos capazes de mudar o mundo, dizemos das boas aos chefes ou ao vizinho que faz barulho até tarde, mas no dia seguinte lá andamos nós mansinhos, e ainda somos oferecemos "A Bola" ao chefe para ele ler as últimas do Glorioso. Ou convidamos o vizinho para ver a bola lá em casa.
E conhecem algum outro país onde se coma tão bem e tão variado como neste nosso outrora jardim à beira-mar plantado? Sempre bem regado, claro...
Temos muitos defeitos, mas gosto de nós assim! Embora reconheça que nalgumas coisas poderíamos fazer francos progressos..."
E o sentirmos o coração pequenino de saudades?
Já o Grande Fernando Pessoa dizia que "o português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja, porque somos um grande povo de heróis adiados". Aliás, num jornal que já não existe (terá sido n'"A Tarde"?) foi feito há muitos anos uma trabalho que achei memorável: o(s) jornalista(s) (?) 'faziam' várias perguntas a que Fernando Pessoa respondia com extratos de obras suas. Lembro-me de ter achado tão interessantes essas 2 páginas de entrevista póstuma a Pessoa que as quis guardar religiosamente. E guardei-as tão bem... que nunca mais as encontrei! Esta frase vinha lá, e era o início de uma das respostas que é, recordo-me, a melhor descrição que já li sobre o que é Ser Português.
E olhem que não é qualquer um que pode ser 'tuga! É uma arte só nossa, 'impartilhável'...